Outra forma de organização da sociedade é possível e é certamente melhor do que a forma atual. Este é o tema do seminário organizado pela Abong e pelo Iser Assessoria que foi realizado em São Paulo nos dias 13 e 14 de junho sob o título "Novos Paradigmas: Rumo ao Bem Viver”.
No primeiro dia do evento, a programação contou com espaços de análise de conjuntura com a participação do economista Ladislau Dowbor (PUC-SP), e Ricardo Abramovay (FEA-USP). Logo em seguida, a mesa “A construção de práticas alternativas e sua difusão” refletiu sobre os desafios dos novos paradigmas de desenvolvimento. Abaixo seguem algumas notas deste painel:
1) Maria Emília Pacheco (Associação Nacional de Agroecologia/CONSEA) abordou sobre a experiência da agroecologia, proposta já internacionalmente reconhecida para superar os problemas advindos da matriz agrícola hegemônica. Ela citou o relatório da UNCTAD de 2013 intitulado “Wake up before it is too late: Make agriculture truly sustainable now for food security in a changing climate”, que faz referência à agricultura moderna no centro do cenário da crise ecológica mundial. “Diversidade é uma categoria chave na agroecologia”, afirmou a convidada. Na contramão da monocultura, a agroecologia visa transformar os sistemas agroalimentares diversificando espécies de planta, integrando as culturas e sem desprezar a biodiversidade. Além disso, o conhecimento dos povos tradicionais são levados em consideração, uma vez que a agroecologia promove o intercâmbio de saberes e não a difusão de um “conhecimento superior” para os agricultores. Há uma construção coletiva coletiva do conhecimemento.
2) Sandra Faé (secretária adjunta da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo da Prefeitura de São Paulo) falou sobre sua experiência na luta pela economia solidária no Brasil. Ela enfatizou que as propostas de políticas públicas desenhadas a partir da economia solidária não podem ser vistas com o estigma de um modelo para gerar renda “aos mais pobres”. Elas também podem promover a emancipação de diversos sujeitos, tais como mulheres, usuários de droga, moradores de rua, etc. Estes programas precisam pensar em processos produtivos que se dêem a partir da sustentabilidade, que considerem a saúde humana e a segurança alimentar. A ideia da economia solidária pressupõe fortalecer o território, os atores locais e as iniciativas existentes dentro de uma comunidade.
Para conhecer melhor sobre o surgimento histórico da Economia Solidária no Brasil, veja a entrevista concedida por Paul Singer (economista de referência nesta área) para a Fundação Rosa Luxemburgo em 2015.
3) Jorge Krekeler (Grupo de Trabalho Mudanças Climáticas e Justiça), da Bolívia, comentou com detalhes sobre o projeto Almanaque do Futuro, um catálogo de experiências alternativas motivadoras. O almanaque busca pequenas lições e não ideias completas sobre oque poderia alavancar o desenvolvimento humano. Nicolau Soares (ABONG) apresentou o Banco de Práticas Alternativas, desenvolvido pela organização no Observatório da Sociedade Civil. As práticas catalogadas se embasaram na gestão democrática, energia renovável, cultivos agroecológicos, valorização da produção e comércio. Em contraste com o material já produzido em outros países, esta plataforma permite que os grupos e as pessoas envolvidas na experiência possam preencher as fichas.
Um dos maiores projetos já conhecidos na tentativa de registrar as novas maneiras de "pensar e fazer" é o DPH (Diálogos, Propostas e Histórias para uma Cidadania Mundial). Foi desenvolvido pela organização francesa "Fundação para o Progresso do Homem", e disponibiliza mais de 7000 fichas coletadas em diversos países, em quatro idiomas.
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