Nos debates políticos e em diversos campos das ciências sociais, têm sido notórias as dificuldades para formular alternativas teóricas e políticas à primazia total do mercado, cuja defesa mais coerente tem sido formulada pelo neoliberalismo. Estas dificuldades devem-se, em grande medida, ao fato de que o neoliberalismo é debatido e confrontado como uma teoria econômica, quando na realidade deve ser compreendido como o discurso hegemônico de um modelo civilizatório, isto é, como uma extraordinária síntese dos pressupostos e valores básicos da sociedade liberal moderna entorno do ser humano, da riqueza, da natureza, da história, do progresso, do conhecimento e da boa vida. As alternativas às propostas neoliberais e ao modelo de vida que representam, não podem ser encontrados em outros modelos ou teorias no campo da economia já que como disciplina científica assume, no fundamental, a cosmovisão liberal.
A expressão mais potente da eficácia do pensamento científico moderno – especialmente em suas expressões tecnocráticas e neoliberais hoje hegemônicas – é o que pode ser descrito literalmente como a naturalização das relações sociais, a noção de acordo com a qual as características da sociedade chamada moderna são a expressão das tendências espontâneas, naturais do desenvolvimento histórico da sociedade. A sociedade liberal industrial constitui-se – a partir desta perspectiva – não somente na ordem social desejável, mas sim na única possível. Esta é a concepção segundo a qual nos encontramos hoje em um ponto de chegada, sociedade sem ideologias, modelo civilizatório único, globalizado, universal, que torna desnecessária a política, na medida em que já não há alternativas possíveis a esse modo de vida.
LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo nas ciências sociais - perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: 2005. 130p. Disponível em: <http://biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/lander/pt/lander.html> Acesso em: 20 10 2014.